Ainda tardo no anoitecer. Fico em silhueta amparada pelo pensamento. Devagar escolho a sensação de adormecer no teu sopro de Outono. E amputada no querer deixo rios de imagens deambularem nas mãos do vento. Escurece no meu peito e aclaram-se as formas de vida ao meu redor. Vejo-te. Preencho o mapa do teu corpo com lágrimas secas que guardei no coração. Tardiamente, na madrugada!
É óbvio o Todo.
Sei. Cumpro o prometido.
Sei que o contorno da ausência
é uma linha fechada e triste
feita de grãos de areia ardentes
Sei da liquidez salgada e dorida
de todo o meu corpo
Mas a alma,
essa,
fala-me da importância
de fazer nascer o mar
neste deserto
E todo o meu cansaço
é sedento
Sustenho-me
na beira do abismo
e rezo pelo alento
peço o poder da montanha
o calor do sol
a força do vento
Atiro-me
pequeno corpo líquido
Na direcção da ausência.
Preencho o vazio
Cumpro o prometido
Companheira do cedro e do melro do meu jardim.
Devolve-me ao infinito.
Sorrio
E afugento a noite escura
Entrelaço os dedos e escapam-se as sombras
De mim para ti
Estrelas transformam-se em sóis
De mim para ti
O silêncio que as linhas das minhas mãos permitem
Lá fora
no espaço que nos desenha a alma
um rouxinol
Salpicando de cores a madrugada
De mim para ti
O som de uma harpa na noite escura
desenhando recantos iluminados
De mim para ti
o cansaço do olhar
que permite
o sonho aconchegado
partilhado
Devolve-me ao infinito
Poderia.
Poderia a madrugada acordar-me os dedos
Fazer da dormência vôos de ternura
Iluminar de dourados os olhares adormecidos
Seriam as mãos claridades e os gestos matizes de alvorada
Seriam os abraços danças renovadas
E as silhuetas dos sonhos
Partiriam para outras paragens
E no entanto
ainda seria cedo para acordar o céu
Adormecido no infinito
Sonha
Deus
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